O Coletivo Negro Kimpa repudia os recentes casos de racismo acontecidos na Unifesp, na Universidade Federal da Bahia, na USP e na Unesp de Bauru e de Franca.
Aluna do curso de Direito da Unesp/Franca sofre há meses com violência psicológica por parte de seus colegas de campus. Tudo começou com uma denúncia feita pela garota nas portas de um banheiro e acabou se transformando em um pesadelo. Após o fato, Daiaria começou a ser chamada de "macaca" e "mentirosa", além de sofrer perseguição até mesmo nas redes sociais. Atualmente ela busca apoio do Coletivo Feminista da Unesp de Franca e pretende tomar as providências legais quanto ao caso.
Daiara é mais um exemplo de força e foco de resistência na universidade. É mulher e é preta. Sendo mulher e preta conhece de perto a tal solidão que tanto assombra a todas. A universidade - e toda sua branquitude - diariamente empurraram sobre Daiara o peso de ser quem ela é. Daiara é preta, universitária e luta por sua voz.
Já a Unifesp perdeu na última semana mais um aluno negro. Thiago fazia parte do movimento estudantil e cursava Filosofia. Seu suicídio entra para as estatísticas como o terceiro envolvendo negros dentro da Unifesp. Políticas higienistas contra estudantes pobres seriam um dos motivos que teriam levado Thiago e os outros companheiros a cometerem suicídio.
Há anos a Unifesp passa por uma "epidemia" depressiva. Baixos investimentos e descaso com a Instituição estão entre os possíveis fatores da mesma. Para os alunos negros a situação é ainda mais complicada já que além da falta de estrutura, lidam também com o racismo diário sofrido dentro do campus predominantemente branco.
Na Universidade Federal da Bahia, um boneco negro enforcado foi encontrado pendurado sobre as áreas comuns de convivência do campus. Os alunos envolvidos disseram não terem tido intenção discriminatória na produção e colocação do boneco - que reforça esteriótipos racistas. O Diretório de Estudantes de Arquitetura se responsabilizou pelo trote e se desculpou aos possíveis ofendidos, mas a sensação entre os alunos negros continua, obviamente, cada dia mais desconfortável.
A página do Spotted da Unesp Bauru não ficou de fora da onda racista e postou há poucos dias um recado direcionado a uma garota do campus que, segundo o dono da mensagem, "teria um cheiro exótico", relacionando também à questão racial e segregracionista onde uma garota negra mais um vez vira alvo de piadas por uma maioria branca opressora que compõe a Universidade.
Ressaltamos também o episódio recente de fotos que estão sendo circuladas no whatsapp por alunos do curso de Relações Públicas onde negros são expostos e viram motivos de piadas e memes.
As “brincadeiras” de cunho étnico/racial por parte da elite branca se estendem a outros campus da Unesp. Nos últimos dias, foram divulgadas fotos do trote organizado pela medicina da Unesp Botucatu. Os veteranos fantasiaram-se com roupas que fazem claras referências à Ku Klux Kan. Os futuros médicos brasileiros, por outro lado, dizem que se tratava de uma brincadeira, que a ideia não era disseminar o ódio racial. Imaginem agora alguém fantasiado de Hittler em qualquer situação. A elite branca judaico/cristã jamais aceitaria e entenderia como uma afronta, afinal, apesar de ter disseminado o ódio contra negros e negras, sua vítima mais difundida foram os judeus. A nossa dor, porém, não vale o mesmo.
Por fim, na FEA USP estudantes negros tentaram discutir a questão das cotas e sofreram tentativas de silenciamento pela maioria branca privilegiada que compunha a sala. Sem o apoio da professora e dos demais alunos, o grupo de estudantes negros manteve firme suas vozes e debateram até o final contra os que diziam "só quero ter aula". A intransigência da Instituição chega a ser absurda quando nem mesmo um grupo de alunos negros consegue ver legimitimada sua luta por espaço e suas vozes.
Atitudes deste cunho não podem ser toleradas. Por mais que se tentem passar esta imagem, racismo não é brincadeira. Um sistema de opressão que mata, agride, deslegitima e silencia uma classe inteira de pessoas não é brincadeira. Não nos calaremos, não esqueceremos e não passará.