Poema : Mandamentos da negação (I)


Agnes Sofia Guimarães

Quais regras quebraria
Se, depois das rodas,
Risos, nossos olhos,
Eu alcançasse seus lábios?

Se eu dissesse que a pele dela
Não é enluarada
E no meu tecido
Não há manchas de carvão?

E qual é o crime ao denunciar,
Com afeto e mil orgulhos,
A cem infrações
do meu desejo?

Eis as provas, sem remorsos:
Luzes,
Estalos,
Cacos de vidros,
Tudo e nada ignorado.

Diga a sentença, eu suplico.
Vou pagá-la com prazer;
Quero minhas brasas em comunhão,
Da senzala para o seu altar.

Nunca há juras:
Não as peço.
Nunca há carinho:
Não a espero.

Nunca, e há nuca
Encontrada no seu engano
Das ondas fáceis do afeto.
O que resta é imensidão,
Imensidão dos retalhos.
Nos seus dedos, minha nuca.

Diga a sentença,vai:
Livre, vou pagá-la.
Livre das suas mãos,
Mordaças do meu grito,
Guardiãs da sua vergonha.

Diga a sentença, vai:
Livre, quero clamar minha loucura.
Efusiva, quero expor seus olhos
Que engoliram suas palavras.

Aquelas que guardou para ela,
Ela que brilha tanto quanto estrelas,
Já mortas.
Não se preocupe, pois:
Há vida nas minhas lágrimas,
Pérolas que furtei do seu medo.

Pobre de você, espada partida.
Eu fiz hóstias da sua negação,
Uma prece a minha liberdade:
A exposição do nosso idílio.

Diga a sentença, vai.

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